Há
alguns meses, em uma viagem de volta de Xapuri (minha terra natal, onde ainda
vivem meu pai e minha irmã), aconteceu algo que contribuiu enormemente para
mudar alguns conceitos que até então eram pífios pra mim.
A
“viagem” foi meio desprogramada, houve meia dúzia de desentendimentos
familiares por lá, constrangimentos, discussões desnecessárias e muito blá blá
blá. Mas enfim, chegou o momento de voltar pra casa, colocar a mala no carro e
partir rumo à felicidade.
Mais
ou menos na metade da viagem, eu, que estava no banco de trás do carro junto
com meus sobrinhos, estava com muito sono. E quando se está com sono sendo
passageiro num carro, tenta-se dormir olhando para o céu, tentando imaginar que
as nuvens são carneirinhos a fim de contá-los (acho que pessoas normais fazem
isso). E foi isso que eu tentei fazer. À princípio deu muito certo, só não a
parte onde eu consigo dormir. Vi vários carneirinhos, ovelhas, lãs, algodão
doce, cúmulos nimbos, avestruzes e patos. Até que, nas nuvens, enxerguei um
homem, sentado, com uma espécie de cajado, me olhando. Piscava os olhos e
enxergava o rosto desse homem mais próximo. Imaginava dezenas de coisas e elas
se mostravam em forma de nuvens no céu. Era fascinante.
No
início eu nem quis acreditar que aquilo era de verdade. Mas passei cerca de
meia hora visualizando imagens vindas da minha consciência. Era como se eu
estivesse lá em cima, moldando as nuvens. E na maioria das imagens, a imagem do
rosto do homem as acompanhava, dando um charme todo especial.
Naquele
momento me senti um tanto estranha, um tanto à vontade e segura. Como se todo
aquele mundão fosse meu e dependesse de mim para continuar a existir. Mil
pensamentos circulavam meu subconsciente. Eu estava voltando à sobriedade, à
minha realidade, onde nuvens são só nuvens.
Mas
aquelas nuvens tinham me tocado. Meu semblante havia mudado, e foi quando uma
gota de lágrima caiu dos meus olhos e eu tentei segurá-la. Mas já era tarde
demais. Várias desabaram e meu irmão quase percebeu. Fingi que estava dormindo
e debrucei meu rosto no canto do carro.
Imaginei
e compreendi o absurdo que eu estava a cometer. O absurdo que era não crer que
toda a maravilha que é viver, a perfeição paradoxal que é a fisiologia e a anatomia
do ser vivo, a biodiversidade que existe em harmonia conosco, havia sido criada
por um ser com capacidade inteligível indubitável em detrimento de uma teoria que,
naquele momento, se mostrava fajuta e idiota pra mim.
Envergonhada
de mim mesma, eu só queria chegar em casa e passar uma borracha em tudo o que
eu havia dito, feito e demonstrado anteriormente. Fazer com que as pessoas a
quem eu deixei transparecer minha intolerância e indignação/revolta esquecessem
que eu já pensei daquela forma.
Mas
eu ainda estava dentro do carro.
Olhei
para o lado e ainda via meus sobrinhos, à frente via minha cunhada e meu irmão.
Estava tudo bem, afinal eu tinha um emprego, um namorado, uma família, uma
vida. Parei, pensei mais um pouco e cheguei à conclusão de que, aquilo era
asneira da minha cabeça. De que, quando eu chegasse em casa, voltaria tudo ao
normal, e aquele dia seria esquecido muito rapidamente.
Mas
não aconteceu isso. Felizmente.
Uma
paz interior tomou conta de mim a partir daquele dia, e, hoje eu acredito que
aquele foi um dos motivos que me fizeram crer em Jesus Cristo, no Criacionismo,
no amor de Deus. Eu acredito piamente que, as nuvens foram um presente dEle
para mim, afinal, era o mês do meu aniversário.